segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Bairros descobertos

Foi inaugurada dia 5 de dezembro, na sede do Centro de Referência São José, o PROJARI, a exposição "Descobrindo nossos bairros: Retratos de uma lembrança". Trata-se de 16 retratos dos bairros Ermo, São Jorge / Primavera, Santa Rita / Cohab e Bom Fim. As fotos são de autoria dos alunos da Oficina de Foto e Vídeo do Projeto Nossa Comunidade tem História.

Para o próximo ano, o projeto ainda prevê a elaboração de um livro, um documentário e uma nova exposição sobre os bairros trabalhados.

Abaixo, alguns registros da cerimônia de inauguração.

















quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Bairros retratados




É um ensaio elaborado, uma primeira amostra, um resultado parcial do trabalho desenvolvido até agora pelo Nossa Comunidade. Uma parcela bem talhada, um quinhão precioso. É a inauguração de "Descobrindo nossos bairros: Retratos de uma lembrança", exposição nascida do diálogo entre as histórias coletadas nas Rodas e o aprendizado da Oficina de Foto e Vídeo.

Depoimentos dos oficineiros. Retratos feitos pelos alunos. A memória de Santa Rita/COHAB, Ermo, Bom Fim, São Jorge/Primavera começa a ser desvendada.


O quê: Exposição "Descobrindo nossos bairros: Retratos de uma lembrança".

Quando: Segunda-feira, 5 de dezembro, às 19h.

Onde: Sede do PROJARI, Av. João Salazar, nº 250 - Bairro Bom Fim / Guaíba

Memórias campeiras




Mario Arregui é desses escritores uruguaios que conseguem mapear os dramas humanos universais no rigor moral, nos modos embrutecidos e na memória de viventes campeiros. Um irmão mais novo de Juan José Morosoli, e como todo caçula rebelde, de penas mais enfeitadas também. Noite de São João, o primeiro conto do volume traduzido por Sérgio Faraco e publicado pela editora L&PM sob o título Cavalos do Amanhecer, é uma amostra exemplar dessa prática.

Nele Francisco Reyes regressa ao povoado depois de muito tempo nas tropeadas, depois de muito tempo na lida abundante em interjeições e árida em diálogos que a companhia do gado promove. Regressa justo na noite de São João, noite de luzes mais vivas, de fogueiras lambendo o céu. Junto de sua volta, nalgum canto daquela imensidão de lampiões iluminando a vila, há uma dívida afetiva com familiares, há o desejo de reencontrar as mulheres da vida, sobretudo a amiga Carmen.

Reyes escolhe como prioridade a segunda opção. E nos leva pelas ruelas arenosas da localidade que aos poucos volta a reconhecer como sua. No caminho, contudo, uma parada para apreciar a respeitável altura de uma fogueira – chama tão acesa e densa quanto as perturbações afetivas causadas pelo regresso. Ele freqüenta as chinas. Ele se despede delas. A noite avança. A perturbação permanece, sobrevive às artimanhas dos lençois.

Reyes recorre, então, ao álcool, companheiro fiel do homem solitário – urbano ou rural. E aquela euforia que normalmente desarma qualquer ameaça de reflexão existencial, aquela debilidade muscular e mental que reduz a preocupação mais alarmante a um problema banal, aquela euforia não é mais concedida pelo trago.

Restaria o fumo, talvez o exorcismo da realidade na bebedeira sem concessões, por fim a contemplação da mesma fogueira cada vez mais reduzida pela diminuição da temperatura, pela displicência dos garotos em repor a lenha – como quem assiste o ponteiro avançar no relógio por horas na esperança de que um remorso recente cicatrize logo e se transforme numa vaga lembrança ruim.

O destino, porém, tem planos mais interessantes para Reyes. Nas imediações de outro bordel, ele se depara com um rosto belo, jovem e desconhecido. A esperança de aplacar a amargura persistente renasce naquele corpo de mulher. Eles encaminham-se para um quarto modesto. As apresentações verbalizadas dividem terreno com a emergente intimidade tátil, num ensaio de cumplicidade afastado da irracionalidade do sexo. E já madrugada adentro, já depois dos primeiros galos cantarem, já depois do sexo e do trago abandonarem as certezas de Reyes, nosso herói se reconcilia parcialmente com a vida no afeto financiado nos braços de uma prostituta novata.

O resto é despedida encharcada de uma gratidão contida à jovem, uma promessa mentirosa de reencontro, a melancolia insondável que os desenlaces de relações sustentadas pelo dinheiro sugerem. Mas é, sobretudo, a garantia de que o dia nascera, os galos cantaram em coro robusto, a fogueiro jazera na fragilidade das cinzas, Reyes vencera a noite de São João e suas armadilhas sentimentais. Era hora de despir o poncho humano. Era hora de voltar a ser tropeiro.


Uma vez por mês, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por mês, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Vozes de Rio Grande




A tarde de sábado, 5, foi recheada de música na sede do Projeto Artesanato, Recreação e Informática (PROJARI), no bairro Bom Fim. O Coral da Universidade Federal de Rio Grande (FURG) apresentou o eclético repertório que já rodou boa parte de estado: focado no universo da música popular brasileira, inclusive com o uso de instrumentos de percussão e intervenção teatral.


A aproximação do PROJARI com a FURG não é novidade. O Ponto de Cultura Nossa Comunidade Tem História, integrante do núcleo coordenado pelas Irmãs de São José, é vinculado à entidade de Rio Grande. A apresentação reforça ainda mais essa relação. “Esperamos que seja a primeira de muitas vindas a Guaíba. Vocês sempre serão bem vindos aqui”, ressaltou a Irmã Nilva Dal Bello, diretora do PROJARI.


Com mais de 30 anos de atividade, o Coral da FURG tem como objetivo popularizar e ampliar a participação da comunidade universitária na atividade de canto . No repertório apresentado sábado, clássicos de todas as gerações da música nacional: de Milton Nascimento e ‘Canção da América’ a ‘No Tabuleiro da Baiana’, de Ary Barroso. Num dos momentos mais emblemáticos da apresentação, um dos integrantes encarnou um ‘preto velho’, de barba branca, veste simples e bengala em punho – referência às três músicas de origem africana interpretadas naquele momento. Entre elas, ‘N’kosi sikeleli Africa’, hino da África do Sul consagrado mundialmente no filme ‘Invictus’.


A regente do grupo, Silvia Zanatta, agradeceu a acolhida do público de mais de 250 pessoas e reforçou as premissas que movem o Coral:


- Nós queremos aproximar a música não só da comunidade universitária, mas da população em geral, desmistificá-la. Nos divertimos muito fazendo o que fazemos, queremos divertir o público também – garantiu.


Além de integrantes de oficinas e membros do PROJARI, o evento contou com a presença do vereador Luis Vargas, da secretária de cultura Claudia Mara Borges e da secretária de educação Lucia Polanczyk.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A caminho dos bairros

O Nossa Comunidade tem História trabalha em dois núcleos: as Rodas de História, encontros com moradores dos bairros Ermo, COHAB/Santa Rita, Bom Fim e São Jorge/Primavera; e a Oficina de Vídeo e Fotografia, capacitação de jovens guaibenses em ferramentas audiovisuais. O grande objetivo é estabelecer o diálogo profundo entre as histórias contadas nas Rodas pelos moradores e o aprendizado recolhido em sala de aula pelos alunos.

Para alcançar tal objetivo, a interação dos núcleos é fundamental. Ela foi ensaiada na visitação a museus em Porto Alegre, no primeiro semestre, e em encontro no PROJARI, no mês de setembro. Mas agora se intensifica. O motivo é a preparação de uma exposição para o mês de dezembro. Uma espécie de amostragem do que foi desenvolvido até agora no projeto. Moradores da Santa Rita e São Jorge já receberam alunos da oficina e transformaram-se em guias pelas ruas locais. Até a metade de novembro, será a vez do Bom Fim e do Ermo.

Nas próximas semanas, novidades sobre a data da exposição e alguns dos registros fotográficos das caminhadas nos bairros.

sábado, 1 de outubro de 2011

Imaginário reconciliado




Há uma ditadura instaurada sobre a cultura brasileira. Uma ditadura de lendas, mitos e histórias oriundas da América do Norte, uma imigração perversa que varre com pressa e sem precedentes o folclore, a cultura popular, a tradição oral do Brasil e da América Latina para sob um tapete de ignorância e dependência. Nessa área conflagrada, não há alternativa outra que reforçar o imaginário dos mitos daqui para as gerações mais novas, revelar que o palco do teatro brasileiro pode ser interessante e deveria ser prioridade em relação às séries enlatadas do hemisfério norte, revelar que o Negrinho do Pastoreio resguarda uma história tão intensa quanto os vampiros e lobisomens anglo-saxões. E como é bom saber que há em Guaíba quem levante essa bandeira com propriedade.

Falo de Denise Beineke, falo de Patrick Braga, falo do show Imaginário Contado, inventário musical de nossas lendas e mitos folclóricos apresentado sábado, dia 24, no Museu Carlos Nobre. Armado da voz de Denise, textura talhada para canções que versam sobre o imaginário bucólico e misterioso das lendas, mistura de ternura e selvageria, e do violão, da gaita de boca, mas, sobretudo, do acordeom dedilhado por Patrick, do acordeom dedilhado com o cuidado de quem manuseia um frágil coração – não à toa o instrumento junto ao peito –, o Imaginário Contado expele pelas cordas do violão, pelas teclas do acordeom, pelas vozes de Denise e Patrick, a mais genuína e radical cultura brasileira.

A origem do projeto é sugerida no convite, com epigrafe de Mario Corso, e foi reforçada no espetáculo por Denise, inclusive com a presença e contribuição do psicanalista e escritor. No livro Monstruário, Corso investiga as lendas e os mitos da cultura brasileira, perscruta nosso imaginário e reconcilia a cultura oral com a palavra escrita. Denise e Patrick apropriaram-se dessa iniciativa e somaram a ela o ritmo enviesado de nossa música. E nessa peculiar ciranda de três compassos, baila Tom Jobim e seu Boto, bailam Dorival Caimy e Manuel Bandeira e sua Balada do Rei das Sereias, bailam Sá e Guarabira com suas e nossas Sete Marias . Nessa ciranda de três compassos bailamos todos nós.

E se há uma ditadura instaurada sobre a cultura brasileira, se há amarras por sobre o verbo de nossa tradição oral, também há vontade de gritar Bate com o pé na pedra / Bate na pedra preta / Quem bate com pé firme e forte / Não tem medo de careta, há vontade de gritar Acenda velas quem não sabe o resto / Da velha história que eu / Cortei ao meio / E ao pé da vela deixe fumo em rama / Para o negrinho do pastoreio.* E para a nossa sorte, aqui mesmo na aldeia, há quem assuma a guerrilha, há quem se arvore do violão de do acordeom. Há Patrick e há Denise. Há ternura e selvageria. Há poesia e canção.


*Os trechos transcritos no último parágrafo pretencem às canções "Tio Barnabé", de Jards Macalé, Marlui Miranda e Xico Chaves, e "Era uma vez", de Aparício Silva Rillo e Mário Barbará.


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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Nossa Comunidade realiza evento de integração

O Nossa Comunidade tem História organizou um encontro de integração dos participantes do projeto. Na tarde de terça-feira, 13, moradores dos bairros COHAB/Santa Rita, Ermo, Bom Fim e São Jorge/Primavera confraternizaram no salão esportivo da entidade, mostrando uma parcela significativa do que cada bairro tem de melhor.

O roteiro de apresentações incluiu a Bateria Mirim da Escola de Samba Império Serrano (projeto feito em parceria com a escola Itororó), os núcleos de dança, balé e flauta do Projeto Vida, o grupo de artesanato em desenvolvimento na COHAB, além das turmas de Taekwondo e Space Dance formadas no PROJARI.

Ao final do encontro, que contou com cerca de 150 pessoas, os participantes das Rodas de História integraram uma dinâmica com os oficineiros do Nossa Comunidade.

Abaixo, as apresentações do Projeto Vida, da São Jorge, e da Banda Marcial da Escola Itororó/Império Serrano.





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

85 anos em vermelho e preto

O Sport Club Itapuí, tradicional sociedade de Guaíba, completou 85 anos de atividades ininterruptas no último dia 23 de julho. Para comemorar a data, a diretoria do Clube organizou extensa programação de aniversário, cuja realização já rendeu o Torneio de Futebol Abílio Machado, o Baile de Aniversário, doação de livros para escolas de Guaíba e região e a exposição “Sport Club Itapuí – 85 anos em vermelho e preto”, sediada no Museu Carlos Nobre.

No trabalho em parceria com a Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura (SETUDEC), fotografias históricas, registros em jornais tradicionais de Porto Alegre, como o Correio do Povo e as extintas Folha da Tarde e Folha da Manhã, além das taças das principais conquistas futebolísticas do Clube, estão expostos no espaço da Rua Sete de Setembro. Destaque para o quadro com os jogadores e a comissão técnica do time Campeão Estadual Amador de 1956.

A exposição permanece no Museu Carlos Nobre até dezembro. O horário de visitação é das 9h às 17h.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Do lado de lá do Guaíba

O Museu da UFRGS abriga desde o final do ano passado a exposição Bom Fim: um bairro, muitas histórias. Exposição já visitada pela equipe do Nossa Comunidade tem História. Além das fotos que ilustram a pluralidade cultural e étnica que forjou a história do bairro portoalegrense, porém, a direção do projeto passou a organizar mesas redondas com habitantes de diferentes setores do bairro, uma forma de dialogar com as fotos, os cartazes, os textos, os vídeos expostos no museu.

Na próxima quarta-feira, 29, por exemplo, ocorre o evento "Histórias de Terras Distantes: etnias no Bom Fim", a partir das 19h, no Mezanino do Museu da UFRGS.

Para maiores informações, acesse o site da exposição clicando aqui.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Pergunte ao Pó




Pó de Parede é foto amarelada que se assopra com força pra clarear da poeira e se vê aquelas roupas já arcaicas com polainas arcaicas e franjas arcaicas e cores vibrantes que se costumava usar no final dos 80 limiar dos 90. Pó de parede é diário de adolescente cuja natureza autobiográfica resolve recair em esquizofrenia e transformá-lo em ficção da mais alta categoria, filho adotivo de Clarice Lispector, sobrinho torto de Altair Martins. Pó de parede é inventário definitivo sem querer ser definitivo sobre como se misturar poesia e prosa, como fazer música com letras, como dialogar com Cortázar sem recorrer a mediunidades.

Pó de Parede é o livro de estréia de Carol Bensimon, jovem escritora portoalegrense que ainda não completou 30 anos e já figurou na lista dos principais prêmios do país. Houvera outra medida que quantificasse as penas mais qualificadas sem recorrer à redução das competições, a pena dela também lá estaria. Pó de parede é um inventário do amadurecer sem o ranço afetado que normalmente assombra textos sobre adolescentes ou jovens adultos. Há no texto de Carol, isso sim, uma casquinha poética que se desprende das paredes dos três contos que integram a obra, uma casquinha que se desprende aos poucos, e alcança o chão sem pressa, sábia da queda, tombando junto das ilusões de cada uma das três personagens.

Pó de parede reconstrói a memória sem deixar de ser ficção. Pó de parede pega a metáfora e a reinventa, encharcada com a melancolia de quem é ainda muito jovem para senti-la, mas resolve envelhecer na cabeça antes que no corpo. Pó de Parede é foto amarelada que se assopra para clarear e que dá vontade de enquadrar porque vê-la todos os dias é como comungar um pouco mais com a poesia, um pouco mais com a vida. E se Pó de parede é uma bela fotografia, Carol comprova ser uma das mais promissoras fotografas de nosso tempo.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Visitas a museus e audição de concerto



Um dia dedicado à visitação de museus e audição de música clássica. Foi essa a prática de 45 membros do Nossa Comunidade tem História na última sexta-feira, 27 de maio. Oficineiros, alunos do curso de foto e vídeo, integrantes das rodas de história e demais participantes do projeto partiram às 14h rumo a Porto Alegre e regressaram às 23h. Na bagagem, a experiência que vai muito além dos quilômetros rodados.

A atividade integra o cronograma do Nossa Comunidade com o objetivo de proporcionar aos moradores dos bairros São Jorge/Primavera, Bom Fim, Ermo e Santa Rita/COHAB – na sua maioria distantes dessa realidade – um contato mais íntimo com a cultura produzida no Estado.
- Esse tipo de atividade é fundamental para que o projeto crie uma identidade própria. É nesse tipo evento que moradores de bairros diferentes podem conviver por mais tempo, além do contato com a cultura – reforça Daniela Konradt, coordenadora do Nossa Comunidade pelo Projeto Artesanato, Recreação e Informática (PROJARI).

O roteiro abrangeu os museus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Hipólito José da Costa (Museu da Comunicação) e um concerto no Colégio Anchieta.

Na UFRGS, os visitantes foram apresentados à exposição sobre o boêmio e multicultural bairro Bom Fim, cuja recuperação da memória remete ao mesmo trabalho feito pelo Nossa Comunidade em Guaíba. Mais tarde, na ida ao Museu da Comunicação, prédio localizado no centro da capital, o contato com a história da televisão no Brasil, em oficina que trabalhou desde mecanismos de produção audiovisual até questões mais delicadas como as licitações para os meios de comunicação e a centralização da mídia em poucas mãos.

- Tudo foi muito proveitoso, conheci coisas que imaginava serem muito diferentes – explica Erozino Medeiros, 67 anos, morador do bairro Bom Fim.

Para encerrar o passeio, o grupo contribuiu para a lotação das dependências da Igreja Ressurreição, do Colégio Anchieta, e acompanhou o concerto Clássicos do Cinema, executado pela Orquestra da Unisinos. Trilhas de filmes famosos como Poderoso Chefão, Titanic e Dr. Zhivago embalaram a noite de sexta-feira.

Guilherme Pokorski, coordenador do projeto pela Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura (SETUDEC), resume o sentimento da equipe do Nossa Comunidade:“Foi muito interessante para nós, integrantes do projeto, presenciarmos a interação e a emoção demonstradas pelas pessoas que participam de nossas oficinas ao realizar o passeio. Foi uma maratona de uma tarde e uma noite, mas que, surpreendentemente, ninguém demonstrou cansaço e aproveitou ao máximo”, observou.




Foto: Hannah Beineke

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nossa Comunidade em Porto Alegre

O objetivo principal do Nossa Comunidade tem História é resgatar a memória de bairros cuja publicidade está normalmente atrelada a destaques negativos. Além de permitir que os moradores dessas localidades contem suas trajetórias, para, a partir daí, fazer um inventário histórico de Ermo, São Jorge/Primavera, Bom Fim e Santa Rita/COHAB com base nessas informações. Mas o Nossa Comunidade quer fazer mais. Por exemplo, permitir que os integrantes das Rodas de História, pessoas que não costumam visitar museus ou audições musicais, passem a freqüentá-los, passem a conhecê-los.

Na póxima sexta-feira, 27, essa promessa começa a ser cumprida. Participantes do projeto vão a Porto Alegre para visitar dois museus da capital gaúcha: o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cujo espaço abriga uma exposição sobre o boêmio e multicultural bairro Bom Fim; e o Hipólito José da Costa, importante memória audiovisual do Estado.

O roteiro ainda prevê a audição de um concerto da Orquestra da Unisinos, nas dependências do Colégio Anchieta, a partir da 20h30min. O repertório será composto por trilhas sonoras de sucessos do cinema mundial.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

As memórias do Bom Fim (de Porto Alegre)

Na quinta-feira da semana passada, membros do Nossa Comunidade estiveram em museus de Porto Alegre, com o objetivo de conceber um roteiro de visitação para os participantes dos quatro bairros contemplados (Ermo, São Jorge, Bom Fim, Santa Rita/COHAB) e das oficinas de vídeo e foto. O passeio acontece na próxima sexta-feira, e ainda nessa semana novas informações serão postadas sobre ele aqui no Blog.


Um dos museus visitados foi o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O local abriga desde dezembro do ano passado a exposição ‘Bom Fim: um bairro, muitas histórias’, trabalho que remonta a trajetória do bairro que foi definido pelo morador célebre e curador de honra do projeto Moacyr Scliar, como o coração da cidade de Porto Alegre.


Nos dois andares disponíveis no museu, significativa variedade de fotos e vídeos que contam as passagens mais marcantes do bairro é apresentada ao visitante. Dos tempos mais tranquilos, quando a Redenção ainda permitia aos pedestres um trânsito noturno em seu núcleo, livre de assaltos, passando pela atividade política durante o Regime Militar, e até confirmando a natureza boêmia com o Ocidente e outros bares marcantes nos anos 80 e 90 – todas as décadas são contempladas.


No mesmo dia da visita, aconteceu a primeira Roda de Conversa (Processo idêntico às Rodas de História) registrada em vídeo pela equipe. Na oportunidade, novas histórias foram levantadas pelos participantes, reafirmando a fonte inesgotável da memória e a importância fundamental de projetos como esse.


Confira mais informações no site da exposição, clicando aqui.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tarantino, um bastardo em estado de glória*




A História é uma senhora digna. Sempre encontra uma forma de reparar as injustiças que assiste desde o seu camarote privilegiado. Basta debruçar-se sobre a trajetória dos líderes mais terríveis, basta rememorar os impérios mais cruéis. Os mesmos líderes sempre – e não há outra maneira – morrem; os mesmos impérios sempre encontram sua derrocada. O tempo é o fiador central desse processo. Ainda assim, a mesma História, como toda ciência que transita mais na subjetividade das letras do que na exatidão dos números, comete reparações parciais. Haja vista o caso dos judeus. Nada, nem os julgamentos que condenaram nazistas à morte, prisões perpétuas, nem a posse robusta de grandes bancos espalhados pelo mundo, nem a soma de qualquer riqueza, seja na qualidade de alguma moeda, seja na aquisição de bens materiais, nada conseguiu reparar a perseguição genocida que sofreram. A História emperra na contingência dos acontecimentos. É refém da realidade. A arte, não. Isso tudo deve ter passado pela cabeça genial de Quentin Tarantino ao conceber sua obra prima, Bastardos Inglórios. Era a hora de a arte emprestar sua capacidade reformadora a um dos mais trágicos acontecimentos da humanidade.

É claro que Tarantino jamais filmaria uma ode piedosa e sóbria sobre o extermínio de milhões de judeus. Não. Tarantino nunca filma odes piedosas e sóbrias. Ele encarnou a mesma temática que molda seu trabalho desde os primeiros filmes: a mesquinhez humana, seu vícios, a fragilidade da vida, sua fugacidade, a natureza violenta, mas, sobretudo, a legitimidade de uma vingança. Foi assim nos Kill Bill Volumes 1 e 2. É assim em Bastardos Inglórios.

O filme compõe-se de dois núcleos básicos: o primeiro, protagonizado pela jovem francesa e judia Shosanna, única remanescente da chacina sofrida pela família denunciada aos nazistas por um fazendeiro vizinho; o segundo, liderado por Aldo Raine, um tenente do exército estadunidense inflado do sotaque mais genuíno do Tennessee e livre de escrúpulos, designado a comandar um grupo de extermínio de nazistas, os Bastardos Inglórios que nominam o filme.

Ao passo que a jovem ruma a Paris, protege-se por trás de um novo nome, foge aos olhos nazistas na condição de herdeira de um cinema e vê a chance de finalmente se vingar das perdas sofridas quando é intimada a fazer a première de um filme do Terceiro Reich, o insólito grupo de extermínio liderado por um Brad Pitt convincente cumpre sua saga pelo interior da França, escalpelando os soldados inimigos abatidos, tatuando com a faca a suástica na testa daqueles que sobrevivem – segundo o Tentente Raine, para que não corram o risco de esconderem-se na multidão quando a guerra acabar e o uniforme nazista deixar de vesti-los.

É a figura que liga a trajetória dos dois núcleos, contudo, o Coronel Hans Landa, Christoph Waltz (Melhor ator coadjuvante no Oscar 2010), quem rouba para si toda a história, como condutor e melhor personagem da trama. Poliglota, afetado, de modos refinados, Landa possui educação e sofisticação proporcional à crueldade e naturalidade que encarna. Seja na chacina à família de Soshanna, seja no assassinato de uma atriz alemã famosa surpreendida como agente dupla, seja ainda quando verbaliza seus ensaios preconceituosos sobre negros e judeus – e segue assim na repentina configuração na ferramenta principal para a derrota nazista.

Landa, Shoshanna, Raine, além dos caricatos Hitler e Goebbles, todos eles permitem a Tarantino travestir a Arte de História para reparar um equívoco do passado, quando o próprio Führer negou aos inimigos sua morte e manteve a marcha ariana até o último momento. Tarantino permite, através de sua obra, o acerto de contas adiado por 65 anos. Tarantino remexe numa memória que tanto envergonha e machuca a humanidade, uma memória normalmente jogada aos lugares comuns que conduzem ao martírio e à piedade. Tarantino usa de seu cinema verborrágico e sanguíneo para falar como poderia ter sido. Como deveria ter sido. Para nãos nos deixar esquecer.


*Duas vezes por mês, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Duas vezes por mês, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os 104 anos de Vó Vita


O bairro São Jorge, uma das localidades contempladas com o Projeto Nossa Comunidade tem História, comemorou no último dia 15 de abril o aniversário de 104 anos de Vitalina Fortes, a Vó Vita. Familiares, amigos e oficineiros do projeto festejaram a data junto da senhora centenária. Na ocasião, foi realizada uma sessão extraordinária das Rodas de Memória, especialmente dedicada à anfitriã.

Oriunda de Barão do Triunfo, Vó Vita fez questão de remontar a própria história: relembrou os tempos de parteira – habilidade que permitiu a realização dos nascimentos de seus 15 filhos –, a vinda para Guaíba, época em que a cidade mantinha uma atmosfera mais rural do que urbana, os primeiros anos no bairro São Jorge e revelou o segredo para a longevidade. “Adoro uma carne assada, churrasco, então, nem se fala, como todo final de semana”, afirmou contente.

Além da São Jorge, as Rodas de História seguem ocorrendo nos bairros Santa Rita, Ermo e Bom Fim.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ao compasso da culpa*



Michel Laub é um investigador da memória. Ao contrário da maioria que o faz, porém, não utiliza o texto biográfico como instrumento desse processo. É no romance, terreno literário cada vez mais difícil de delimitar, visto a proximidade conceitual que adquiriu do conto e da novela, é no romance, texto de maior fôlego, portanto que reivindica engenharia mais elaborada, é no romance que Michel Laub esquadrinha a memória. Música Anterior, primeira obra do autor paulista, é um exemplo disso.

Michel Laub usa a memória de um juiz, figura atormentada por arrependimentos e frustrações na vida pessoal e no trabalho, jurista que rumina a culpa de condenar por estupro Luciano, marido estéril que se distancia da mulher com a mesma certeza da inutilidade de seus espermatozóides, familiar incapaz de perdoar o recrudescimento do pai com a morte da mãe e as coincidências que envolvem o irmão caçula e essa tragédia.

E numa prosa anárquica, ainda que numa anarquia muito bem engendrada, numa prosa hermética no formato e minimalista na linguagem, numa prosa que remete ao labirinto borrado que a memória retrataria caso se tirasse uma foto dela, nessa prosa Laub apresenta cada um dos acontecimentos que transformam o juiz em profissional, marido, filho e irmão frustrados. E descobrindo as outras vidas atreladas a esses fatos, a de Luciano, condenado por estupro, a esposa, mulher impedida de exercer a maternidade – ao menos, biológica –, o irmão, culpado pela morte da mãe, o pai, arremedo da pessoa que era quando a família ainda reivindicava quatro pratos, quatro copos, quatro garfos, quatro facas à mesa, o leitor descobre também a incapacidade de alterar cada um desses processos.

Michel Laub é um investigador da memória, mira na memória pessoal para alcançar o todo, o universal. E, pelo menos em Música Anterior, consegue. O juiz tenta perdoar e ser perdoado por cada um dos personagens que cercam sua vida, como se a solução destes imbróglios significasse um bilhete autenticado pela vida para seguir em frente, uma permissão a perseguir a felicidade. O contrário, porém, o não conseguir, a desculpa inalcançável, a conciliação impossível, gera o estático, imobiliza, proíbe o avanço. Na anarquia organizada de sua prosa, Laub investiga as culpas e frustrações que carregamos por toda a vida; e, sobretudo, os mecanismos afetivos que desenvolvemos para remediá-las.





*Duas vezes por mês, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Duas vezes por mês, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sangue Latino, memória universal*

Eduardo Galeano é um dos artífices principais do resgate histórico e moral que a América Latina promoveu nos últimos 50 anos. Dentro do campo jornalístico, talvez seja sua luz maior. As veias abertas da América Latina, a obra fundamental. Não é de se estranhar, portanto, que seu principal tradutor no Brasil, o jornalista Eric Nepomuceno, tenha alcançado a façanha de expandir o inventário histórico, político e literário latinoamericano a uma esfera tão submetida a dogmas nascidos no hemisfério norte: a televisão. Sangue Latino, série de entrevistas com escritores, cineastas, atores – argentinos, uruguaios, brasileiros, chilenos –, produção do Canal Brasil, já pertence ao corpo das principais autobiografias audiovisuais deste continente.
E Nepomuceno reuniu um time abalizado para acompanhá-lo nas conversas. Submetidos, entrevistador e entrevistado, sempre a uma atmosfera que remete a ambientes portenhos – inclusive nos episódios protagonizados por brasileiros –, reforçados ainda pela trilha instrumental comandada pelo acordeom e a ausência de cores, a série incorpora com autoridade a voz, a música e a alma latina.
A memória de cada convidado é desnudada lentamente diante do telespectador, processo facilitado pela habilidade de Nepomuceno em ministrar as perguntas, ele transfigurado no padre mais confiável de um confessionário pagão. E pelos olhos dele, pelos nossos olhos, passa António Skármeta, escritor chileno - autor de O Carteiro e o Poeta, que compara o boom da literatura latino americana nos anos 60, momento de fundação de um imaginário latino para o restante do mundo, com o atual momento político vivido pelo continente, quando a soberania nasce de diferentes linhagens da esquerda; passa Paulo José, como já citado; passam Ruy Guerra, Chico Buarque, Marcelo Piñeyro, Mempo Giardinelli, Ferreira Gullar, León Ferrari , além de tantos outros.
E há, claro, Eduardo Galeano. E com ele, todo o corpo desgastado por mais de sete décadas e vida e mais da metade dela em luta conflagrada contra o imperialismo, contra a memória latinoamericana escrita por penas do norte, contra a própria parcela reacionária nascida em terras latinas, colonizada, e isso, caro amigo, deve cansar. Mas ainda com os mesmo olhos azuis inflamados, o discurso reto, direto, a voz combativa porém terna renovada a cada livro, a mesma voz que redimiu a todos nós expondo as veias abertas deste continente.
Por fim, o convidado é sutilmente provocado por Nepomuceno a lançar o próprio olhar sobre o jovem que foi. Como se o continente se transformasse num ancião disposto a remontar a própria memória, e sentasse diante de um espelho rejuvenescedor para observar, desde seus olhos vincados ladeados por têmporas desbotadas por cinco séculos, as angústias, os alentos, as perdas, os erros, o caminho que escolhera à época. Sem arrependimentos ou autocomiseração. Mas com o comprometimento de reconhecer a própria história, reconhecer-se, e confrontar toda a gravidade que isso acarreta. Reconhecer-se como se é. Tão somente isso.

Acesse a página do programa, no site do Canal Brasil, clicando aqui.


*Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Vídeo de inauguração

O GERIBANDA, Pontão de Cultura da FURG que dá suporte ao Nossa Comunidade tem História, produziu um vídeo sobre a inauguração do nosso Ponto de Cultura.

Clique aqui para assistir às imagens captadas por Vinicius Rocha.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os heróis de Quiroga*

A tragédia foi companheira perene na vida de Horácio Quiroga. O escritor uruguaio andou de mãos dadas com a morte desde a infância até os últimos anos: diante do suicídio controverso do pai; ao ingressar na idade adulta e acompanhar o suicídio do padrasto, um pouco mais tarde; quando acidentalmente matou um amigo com um disparo de pistola; além dos suicídios de seu preceptor e da primeira mulher. O próprio Quiroga também tiraria a própria vida em 1937. E até depois de morrer, onde quer que esteja, assistiu ao suicídio de dois filhos, que encerraram o fúnebre périplo iniciado com a morte do avô.

Não é difícil compreender que uma trajetória marcadamente trágica influenciou de maneira definitiva a obra do autor. Basta ler alguns de seus contos para atestar a textura pouco pigmentada, como se compusesse antíteses das comédias românticas de Hollywood, onde tudo acaba bem. Quiroga, por razões óbvias, não acreditava em final feliz. Houve, contudo, uma série de crônicas que escapou da costumeira temática lúgubre. Ou quase. Heroísmos – Biografias exemplares não chega a ser uma ode ao otimismo, mas carrega consigo aquela aura dos textos que pretendem reconciliar o ser humano consigo mesmo. Por meio de textos curtos, o autor remonta episódios emblemáticos da vida de dezesseis personagens que possuíam a abençoada, porém onerosa chaga da invenção. Homens que, em determinado momento de suas vidas, transitaram em terreno jamais habitado pelo homem e, sábios de seus ineditismos, atribuíram ao caráter da invenção importância maior do que a própria existência.

Há Edgar Allan Poe, o inventor do conto moderno, e sua honradez com a própria literatura, ainda que isso lhe impedisse a manutenção de seu alcoolismo; há Bernard Palissy, criador do esmalte, cuja obstinação em encontrar texturas e cores perfeitas fez arder no forno de ceramista os móveis de sua casa, inclusive a cama dos filhos, na certeza de seu gênio; há Richard Wagner, vulto maior da música clássica, dispensado por maestros menores quando já carregava em sua pasta obras primas que logo revelariam ao mundo mais um tributo nas dívidas da humanidade com seus gênios. Há, enfim, uma série de figuras que simbolizam o passo adiante ora dado por alguém, o passo que amplia um universo, desbrava quando desorienta, conduz. Quiroga acreditava que estes homens possuíam natureza diferente dos demais: “O homem de têmpera mediana, o homem normal, equilibrado como uma balança (...) afasta-se das chamas que o fariam arder e foge dos moribundos que o arrastariam na mesma agonia. Aquele que escolhe o outro caminho não ignora que morrerá no profundo abismo (...) apesar dessa certeza, tem um só pensamento: deve fazê-lo”.

O Projeto Nossa Comunidade tem História discorda, em parte, de Quiroga. Quer enxergar esses mesmos passos de Poe, de Palissy, de Wagner, mas nas vidas ainda anônimas dos moradores dos bairros São Jorge, Bom Fim, Santa Rita/COHAB e Ermo. Aumentar a lente da história, refém do reconhecimento célebre, e apontar nos milagres diários que uma trajetória ignota acumula. Quiroga quitou sua parte na eterna dívida que a humanidade tem com sua própria memória. Guaíba tem a oportunidade de fazer o mesmo.


*Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ponto de Cultura em destaque

A inauguração do projeto Nossa Comunidade tem História, ocorrida na última terça-feira, 15, na sede do Projeto Recreação, Artesanato e Informática (PROJARI), mereceu atenção especial de jornais de Guaíba.

A Folha Guaibense do dia 18 de março salientou a presença do Prefeito Henrique Tavares, da Secretária de Cultura Claudia Mara Borges e de Miguel Isoldi, Coordenador do GERIBANDA, Pontão de Cultura ao qual o Nossa Comunidade está atrelado.

Já a Gazeta Centro Sul de 19 de março reforçou as informações de suas publicações anteriores, quando estampou na capa da edição do dia 5 de março a seguinte manchete: "Populares farão documentário sobre a história de seus bairros". A presença de cerca de cem pessoas ao evento também foi destacada pelo semanário.

As oficinas iniciaram nesta segunda-feira. No decorrer desta semana, mais informações serão veiculadas no Blog a respeito de seu andamento e cronograma.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Nossa Comunidade quer fazer história


O projeto Nossa Comunidade tem História iniciou sua caminhada oficial. A inauguração ocorreu na noite de terça-feira, 15, às 19h, na sede do Projeto Artesanato, Recreação e Informática (PROJARI). Cerca de cem pessoas, entre membros da equipe, autoridades e, sobretudo, integrantes das oficinas de Rodas de História e Capacitação em Audiovisual, estavam presentes.

Entre eles, o senhor Elmo Meireles, participante das Rodas de História pelo Bom Fim. A ansiedade com início das atividades era denunciada pelas mãos ocupadas com caneta e bloco de anotações, para que nenhuma informação fosse perdida. “É uma oportunidade muito importante para nós, para contarmos a nossa história”, comemora. Mesmo que as Rodas iniciem somente na semana que vem, Elmo já adiantou uma das histórias curiosas que deve relatar aos oficineiros do projeto:

- Olha, quando fui comprar meu terreno aqui no Bom Fim, não havia construção nenhuma na volta. Lá onde moro, por exemplo, havia apenas uma plantação de aipim - relembra.

O Nossa Comunidade nasceu de uma parceria entre a Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura de Guaíba (SETUDEC) e o PROJARI. Essa união foi ressaltada pelo prefeito Henrique Tavares, que ainda acrescentou o ineditismo do projeto, cuja essência reside na participação popular. “Será um trabalho da comunidade, feito para a comunidade”.

Outras falas marcantes couberam à Irmã Laura Gavazzoni, vice-presidente do PROJARI, à secretária de Cultura Claudia Mara Borges, a Guilherme Pokorski, coordenador do Nossa Comunidade pela SETUDEC, e a Miguel Isoldi, coordenador do Geribanda, núcleo de pontos de cultura sediado na Universidade Federal de Rio Grande (FURG), ao qual o Nossa Comunidade está atrelado.

As oficinas iniciam na próxima segunda-feira. Mais informações pelo telefone 3491 3266, com Daniela.
Foto: Hannah Beineke

sexta-feira, 11 de março de 2011

Abra a Janela, abra Baús*

Quem conhece os textos de Carlos Sant’Anna, conhece boa parte da história de Guaíba. Quem conhece o Seu Carlinhos, sujeito simples, carregado de humildade robusta e rara de encontrar entre aqueles que se arvoram da escrita, reforça de maneira definitiva sua importância para a memória da cidade.

Abrindo Baús, sua primeira publicação, traz uma série de biografias de guaibenses que de alguma forma decalcaram seus nomes na trajetória da cidade. Dos mais abonados, senhores ainda de Pedras Brancas, até figuras mais humildes, fundamentais na riqueza que compõe o folclore das cidades pequenas. Por quase dez anos, de 1991 a 2000, as principais personalidades que transitaram pela faixa de terra que se orgulha de ser um dos esteios da Revolução Farroupilha desfilaram pelas páginas do Jornal O Guaíba, na coluna intitulada Nossa História. Por responsabilidade irrestrita de Seu Carlinhos, Aladim Pinto, Breno Guimarães, Inácio de Quadros, Alfredo Desidério de Souza e outros tantos vultos guaibenses deixaram de ser apenas nomes de ruas para as gerações mais novas ou material exclusivo da tradição oral para eternizarem-se também nessa obra.

Mas o autor não parou por aí. A extensão desse livro, a publicação seguinte, Janela do Tempo – Memórias da Minha Cidade, cava ainda mais fundo nas lembranças destes pagos. Ainda há a preocupação em saldar a dívida com aqueles que construíram ontem a Guaíba de hoje, com biografias adiadas no primeiro livro, como Cel. Vasco Alves Pereira, Cardeal Dom Vicente Scherer, João de Araújo Lessa. Porém o tom que baliza a maioria dos textos é a despretensão da crônica. Por meio de causos marcantes e insólitos encharcados de humor e perspicácia, Seu Carlinhos funda a memória literária e afetiva da cidade, refém outrora de confusa e acidentada tradição oral e da rigidez de documentos oficiais enfadonhos.

Abrindo Baús e Janela do Tempo são leituras obrigatórias para qualquer guaibense que se preocupa em saber sobre a formação do lugar onde vive. Quem conhece Seu Carlinhos e suas publicações, sabe do que estou falando. Quem conhece Seu Carlinhos e suas publicações, conhece melhor Guaíba.


*Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais

quinta-feira, 10 de março de 2011

Projeto é manchete no jornal Gazeta Centro Sul

Mesmo antes de sua inauguração oficial, o projeto Nossa Comunidade tem História começa a dar o que falar na mídia da cidade. Em sua edição da última sexta-feira, 4, o jornal Folha Guaibense publicou em sua contracapa texto informando sobre o lançamento do próximo dia 15, onde reforça também a importância das oficinas de Rodas de História e de capacitação em Vídeo e Fotografia.

Já a Gazeta Centro Sul do dia 5 de março estampou em sua capa a manchete: “Populares farão documentário sobre a história de seus bairros” – publicando matéria detalhada sobre cada etapa do projeto.

Clique aqui para acessar a matéria no site da Gazeta.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Narradores da memória*



Javé, cidade do interior da Bahia de povo maltratado e trabalhador, cuja lavoura de sofrimentos é bem maior do que qualquer canteiro de posse, pois Javé é uma cidade condenada à extinção. Mas não se trata dessa extinção que o tempo impõe a todos, um sumiço gradual, que determina lentamente um lugar ao esquecimento definitivo, como que avisando aos poucos sobre sua retirada da história. Javé sumirá por obra do próprio homem, inundada por uma represa, iniciativa de beneficiamento energético. Menos para o povo analfabeto e simplório de Javé.

A única maneira de impedir a inundação é comprovar que aquele canto de terra seca esquecido por Deus possui uma história que merece ser preservada. É daí que surge a idéia: repatriar Antonio Biá, único homem letrado do povoado, exilado em dunas distantes por ter inventado histórias difamantes e enviado em cartas a parentes dos demais moradores, tudo na esperança de preservar seu emprego nos Correios da cidade – agência tão necessária para o povo analfabeto de Javé quanto um secador de cabelos na aridez nordestina. Repatriar Biá para que ele escreva a grande história de Javé, a saga de um povo que fundou na herança quase inconsciente da tradição oral o seu inventário, mas que por falta de registros e fiadores científicos, não obtém a crença dos senhores letrados da capital.

E a romaria de Biá começa, casa por casa, morador por morador, nas residências mais próximas, encravadas no centro do povoado, nos pagos longínquos, em tribos de línguas incompreensíveis, todos com a chance de contar a própria história. Ocorre que, diferente da frieza e da certeza dos documentos, as fontes humanas caminham em terreno incerto e salpicado de vaidade, sobretudo quando se trata do próprio passado. Ao passo que cada cidadão de Javé intitula-se herdeiro direto de Indalécio ou algum outro suposto fundador do povoado, embarcando todos na possibilidade de deixar a sombra que os impunha coadjuvantes – tal qual o povoado a que pertencem – e de alguma forma lançarem-se na história como protagonistas.

Diante de tanta confusão, nem mesmo os textos floreados de Biá conseguem cruzar o labirinto que enreda a memória de seu povo. Mas, assim como o desenvolvimento desenfreado não cessa de retirar ribeirinhos, condicionar comunidades a condições precárias em nome de um “todo” incerto e muitas vezes injusto, assim também é a caminhada humana, capaz de se adaptar às condições mais adversas. Basta que se tenha um palmo de terra seca, lá mesmo onde Indalécio ou algum outro antepassado resolveu assentar-se ou nalgum outro canto nordestino. Basta que tenha espaço, condições mínimas de moradia: desde sempre são as pessoas que constroem os povoados, pois a memória jamais será mercadoria a mercê de enchentes ou inundações.


Trailer do Filme

* Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Projeto capacita jovens em Vídeo e Fotografia

O Projeto ‘Nossa Comunidade tem História’, em parceria com o PROJARI (Projeto Artesanato, Recreação e Informática) e a Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura (SETUDEC), abriu inscrições para Oficinas de Capacitação em Vídeo e Fotografia. As atividades iniciam em março, na sede do Projari, e vão envolver jovens guaibenses de 14 a 25 anos.

As oficinas estão integradas ao projeto que pretende resgatar a memória de quatro comunidades da cidade por meio de Rodas de História: encontros onde moradores contam a própria história, construindo, assim, a trajetória do bairro. COHAB/ Santa Rita, São Jorge, Ermo e Bom Fim são as localidades escolhidas.

O curso tem duração de dois anos e, a partir do terceiro semestre, os alunos vão realizar um documentário e uma exposição de fotografia sobre o material coletado.

Inscrições e outras informações sobre o projeto, pelo telefone 3491 3266, com Dani.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Memórias de um exílio*

Há uma geração de sulamericanos que perdeu a própria pátria. Essa que ultrapassa as seis ou sete décadas de vida, período de fragilidade corporal proporcional à maturidade mental. Alijados no próprio solo pelo próprio governo, esses desterrados rumaram a outros países, atrás de um abrigo perdido em casa. Mempo Giardinelli, escritor argentino, pertence a esta estirpe. Nascido em Resistência, amadurecido em Buenos Aires, exilou-se em terras mexicanas ainda no vigor dos vinte anos. Lá, permaneceu por quase dez anos, trabalhou como jornalista, escreveu célebres romances e germinou como tantos outros o sentimento de apátrida que ainda carrega, mesmo de volta à sua Resistência, mesmo depois de tantos anos sem regimes militares em terras latinas. O Céu em minhas mãos, seu segundo romance, constrói, com a devida amargura, o sentimento dessa geração.

É apoiado na memória, talvez o único remédio para um desgarrado, que o narrador cumpre sua romaria de estrangeiro. Sobretudo nas lembranças de Aurora. Paixão de infância. Paixão de adolescência. Paixão de sempre. Junto de Jaime, interlocutor fiel e silencioso que divide sua atenção com o leitor, ele percorre sistematicamente os caminhos que ligam o passado remoto em Resistência, a cidade interiorana e pacata numa argentina que ainda desconhecia a Ditadura, e o presente ressentido no México, quando todas as perdas e as frustrações impostas pelo exílio descansam numa pátria acolhedora, mas que jamais permite ser chamada de casa.

E assim passam diante dos olhos do leitor as espiadelas de guri no buraco da fechadura durante os banhos de Aurora, os bailes do Clube, os primeiros contatos com o sexo oposto, os esporros maternos, o amadurecimento, as farras com os amigos, o mosaico de personagens pitorescos e provincianos decalcados em sua memória, e uma conclusão trágica e cômica ao mesmo tempo: todos os desaforos que direcionara a Resistência quando novo, quando lá: a mesquinhez de cidade pequena, a hipocrisia, tudo se transformara numa saudade, numa nostalgia sem fim, numa vontade de não existir exílio, de não existir a distância de vinte anos daquele tempo, de vinte anos sem ver Aurora.

Mas é na iminência de contar a Jaime, contar ao leitor, que, de fato, encontrou Aurora, depois de duas décadas distanciados, depois de ambos casarem-se, depois de fazerem filhos, depois de a vida impossibilitar qualquer chance de se concretizar aquele sonho adolescente de viver com ela, por ela e para ela, é na iminência de relatar esse reencontro que a memória ganha contornos verdadeiramente amargos, ressentidos, ainda que uma amargura e um ressentimento resignados.

Ao mesmo tempo em que a redenção se apresenta em trajes possíveis, em que ele finalmente pode exorcizar todas as frustrações acumuladas com o amor estéril que alimentou até então por Aurora, ao mesmo tempo saltam certezas amargas aos olhos: eles já não são os mesmos de vintes anos antes, o corpo está um pouco mais velho, a mente cansada de fugir de casa, a pátria foi perdida para os gorilas militares, os filhos não têm um país para chamar de seu, como eles mesmos tiveram. “A autocomiseração também não ajuda nada. Menos ainda a consciência de ter perdido tantas coisas. Saber que sou um perdedor, um frustrado, um caro amigo da derrota, é coisa que já se tornou insuportável. Só as recordações têm alguma consistência (...) Ainda somos jovens e nos espalhamos pelo mundo, como fugidos de um formigueiro em que alguém deu um pontapé. E partimos, os que nos salvamos, os que não conseguimos (...) para impregnar de nostalgia tudo o que encontramos pela frente”.

De resto, não há alternativa a não ser seguir vivendo, resolve o narrador. A vida não permite o regresso aos sonhos com Aurora, mas ainda há os cafés, uma conversa, alguma forma de reconciliação com ela. E, enquanto as ditaduras não caem, enquanto a distância física da Argentina persiste, as memórias de Resistência seguem diluídas nos mates como um refúgio seguro, agora um pouco menos amargas, em algum canto do México, à espera do retorno pra casa.



* Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Geribanda 2010

Tecendo Teias

Em dezembro de 2010, parte do grupo de trabalho do projeto Nossa Comunidade tem História esteve em Rio Grande para participar do Geribanda 2010. Trata-se de um grande encontro de cultura promovido pela FURG e um espaço para divulgarmos nosso projeto e conhecer os outros pontos de cultura aprovados no mesmo edital.

O tema desta edição era "tecendo teias", ou seja, a idéia da FURG em relação aos pontos de cultura é que consigam trabalhar em conjunto, tecendo uma teia de colaboração que propicie o sucesso de todos os projetos.

Assista alguns vídeos deste encontro:





Veja fotos da apresentação do nosso projeto no encontro:






Visita Geribanda ao PROJARI

O Geribanda, Pontão de Cultura da FURG, ponto de cultura ao qual o projeto Nossa Comunidade tem História esta atrelado, visitou-nos para conhecer nossa estrutura e as nossas condições para desenvolver o trabalho.
Se, como diz o ditado, a primeira impressão é a que fica, podemos ficar tranqüilos, que nossa imagem é muito positiva. O pessoal que nos visitou ficou muito impressionado com a estrutura do PROJARI e tem muita confiança em nossa capacidade de trabalho.
Assista ao vídeo que eles produziram com as imagens gravadas na visita.



Vídeo produzido na primeira visita da FURG ao PROJARI
Vídeo: imagens e edição Law Tissot [Pontão Geribanda]
Trilha sonora: Camila Régio
Vídeos de outros Pontos: http://geribandafurg.blogspot.com/