quinta-feira, 24 de março de 2011

Vídeo de inauguração

O GERIBANDA, Pontão de Cultura da FURG que dá suporte ao Nossa Comunidade tem História, produziu um vídeo sobre a inauguração do nosso Ponto de Cultura.

Clique aqui para assistir às imagens captadas por Vinicius Rocha.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os heróis de Quiroga*

A tragédia foi companheira perene na vida de Horácio Quiroga. O escritor uruguaio andou de mãos dadas com a morte desde a infância até os últimos anos: diante do suicídio controverso do pai; ao ingressar na idade adulta e acompanhar o suicídio do padrasto, um pouco mais tarde; quando acidentalmente matou um amigo com um disparo de pistola; além dos suicídios de seu preceptor e da primeira mulher. O próprio Quiroga também tiraria a própria vida em 1937. E até depois de morrer, onde quer que esteja, assistiu ao suicídio de dois filhos, que encerraram o fúnebre périplo iniciado com a morte do avô.

Não é difícil compreender que uma trajetória marcadamente trágica influenciou de maneira definitiva a obra do autor. Basta ler alguns de seus contos para atestar a textura pouco pigmentada, como se compusesse antíteses das comédias românticas de Hollywood, onde tudo acaba bem. Quiroga, por razões óbvias, não acreditava em final feliz. Houve, contudo, uma série de crônicas que escapou da costumeira temática lúgubre. Ou quase. Heroísmos – Biografias exemplares não chega a ser uma ode ao otimismo, mas carrega consigo aquela aura dos textos que pretendem reconciliar o ser humano consigo mesmo. Por meio de textos curtos, o autor remonta episódios emblemáticos da vida de dezesseis personagens que possuíam a abençoada, porém onerosa chaga da invenção. Homens que, em determinado momento de suas vidas, transitaram em terreno jamais habitado pelo homem e, sábios de seus ineditismos, atribuíram ao caráter da invenção importância maior do que a própria existência.

Há Edgar Allan Poe, o inventor do conto moderno, e sua honradez com a própria literatura, ainda que isso lhe impedisse a manutenção de seu alcoolismo; há Bernard Palissy, criador do esmalte, cuja obstinação em encontrar texturas e cores perfeitas fez arder no forno de ceramista os móveis de sua casa, inclusive a cama dos filhos, na certeza de seu gênio; há Richard Wagner, vulto maior da música clássica, dispensado por maestros menores quando já carregava em sua pasta obras primas que logo revelariam ao mundo mais um tributo nas dívidas da humanidade com seus gênios. Há, enfim, uma série de figuras que simbolizam o passo adiante ora dado por alguém, o passo que amplia um universo, desbrava quando desorienta, conduz. Quiroga acreditava que estes homens possuíam natureza diferente dos demais: “O homem de têmpera mediana, o homem normal, equilibrado como uma balança (...) afasta-se das chamas que o fariam arder e foge dos moribundos que o arrastariam na mesma agonia. Aquele que escolhe o outro caminho não ignora que morrerá no profundo abismo (...) apesar dessa certeza, tem um só pensamento: deve fazê-lo”.

O Projeto Nossa Comunidade tem História discorda, em parte, de Quiroga. Quer enxergar esses mesmos passos de Poe, de Palissy, de Wagner, mas nas vidas ainda anônimas dos moradores dos bairros São Jorge, Bom Fim, Santa Rita/COHAB e Ermo. Aumentar a lente da história, refém do reconhecimento célebre, e apontar nos milagres diários que uma trajetória ignota acumula. Quiroga quitou sua parte na eterna dívida que a humanidade tem com sua própria memória. Guaíba tem a oportunidade de fazer o mesmo.


*Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ponto de Cultura em destaque

A inauguração do projeto Nossa Comunidade tem História, ocorrida na última terça-feira, 15, na sede do Projeto Recreação, Artesanato e Informática (PROJARI), mereceu atenção especial de jornais de Guaíba.

A Folha Guaibense do dia 18 de março salientou a presença do Prefeito Henrique Tavares, da Secretária de Cultura Claudia Mara Borges e de Miguel Isoldi, Coordenador do GERIBANDA, Pontão de Cultura ao qual o Nossa Comunidade está atrelado.

Já a Gazeta Centro Sul de 19 de março reforçou as informações de suas publicações anteriores, quando estampou na capa da edição do dia 5 de março a seguinte manchete: "Populares farão documentário sobre a história de seus bairros". A presença de cerca de cem pessoas ao evento também foi destacada pelo semanário.

As oficinas iniciaram nesta segunda-feira. No decorrer desta semana, mais informações serão veiculadas no Blog a respeito de seu andamento e cronograma.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Nossa Comunidade quer fazer história


O projeto Nossa Comunidade tem História iniciou sua caminhada oficial. A inauguração ocorreu na noite de terça-feira, 15, às 19h, na sede do Projeto Artesanato, Recreação e Informática (PROJARI). Cerca de cem pessoas, entre membros da equipe, autoridades e, sobretudo, integrantes das oficinas de Rodas de História e Capacitação em Audiovisual, estavam presentes.

Entre eles, o senhor Elmo Meireles, participante das Rodas de História pelo Bom Fim. A ansiedade com início das atividades era denunciada pelas mãos ocupadas com caneta e bloco de anotações, para que nenhuma informação fosse perdida. “É uma oportunidade muito importante para nós, para contarmos a nossa história”, comemora. Mesmo que as Rodas iniciem somente na semana que vem, Elmo já adiantou uma das histórias curiosas que deve relatar aos oficineiros do projeto:

- Olha, quando fui comprar meu terreno aqui no Bom Fim, não havia construção nenhuma na volta. Lá onde moro, por exemplo, havia apenas uma plantação de aipim - relembra.

O Nossa Comunidade nasceu de uma parceria entre a Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura de Guaíba (SETUDEC) e o PROJARI. Essa união foi ressaltada pelo prefeito Henrique Tavares, que ainda acrescentou o ineditismo do projeto, cuja essência reside na participação popular. “Será um trabalho da comunidade, feito para a comunidade”.

Outras falas marcantes couberam à Irmã Laura Gavazzoni, vice-presidente do PROJARI, à secretária de Cultura Claudia Mara Borges, a Guilherme Pokorski, coordenador do Nossa Comunidade pela SETUDEC, e a Miguel Isoldi, coordenador do Geribanda, núcleo de pontos de cultura sediado na Universidade Federal de Rio Grande (FURG), ao qual o Nossa Comunidade está atrelado.

As oficinas iniciam na próxima segunda-feira. Mais informações pelo telefone 3491 3266, com Daniela.
Foto: Hannah Beineke

sexta-feira, 11 de março de 2011

Abra a Janela, abra Baús*

Quem conhece os textos de Carlos Sant’Anna, conhece boa parte da história de Guaíba. Quem conhece o Seu Carlinhos, sujeito simples, carregado de humildade robusta e rara de encontrar entre aqueles que se arvoram da escrita, reforça de maneira definitiva sua importância para a memória da cidade.

Abrindo Baús, sua primeira publicação, traz uma série de biografias de guaibenses que de alguma forma decalcaram seus nomes na trajetória da cidade. Dos mais abonados, senhores ainda de Pedras Brancas, até figuras mais humildes, fundamentais na riqueza que compõe o folclore das cidades pequenas. Por quase dez anos, de 1991 a 2000, as principais personalidades que transitaram pela faixa de terra que se orgulha de ser um dos esteios da Revolução Farroupilha desfilaram pelas páginas do Jornal O Guaíba, na coluna intitulada Nossa História. Por responsabilidade irrestrita de Seu Carlinhos, Aladim Pinto, Breno Guimarães, Inácio de Quadros, Alfredo Desidério de Souza e outros tantos vultos guaibenses deixaram de ser apenas nomes de ruas para as gerações mais novas ou material exclusivo da tradição oral para eternizarem-se também nessa obra.

Mas o autor não parou por aí. A extensão desse livro, a publicação seguinte, Janela do Tempo – Memórias da Minha Cidade, cava ainda mais fundo nas lembranças destes pagos. Ainda há a preocupação em saldar a dívida com aqueles que construíram ontem a Guaíba de hoje, com biografias adiadas no primeiro livro, como Cel. Vasco Alves Pereira, Cardeal Dom Vicente Scherer, João de Araújo Lessa. Porém o tom que baliza a maioria dos textos é a despretensão da crônica. Por meio de causos marcantes e insólitos encharcados de humor e perspicácia, Seu Carlinhos funda a memória literária e afetiva da cidade, refém outrora de confusa e acidentada tradição oral e da rigidez de documentos oficiais enfadonhos.

Abrindo Baús e Janela do Tempo são leituras obrigatórias para qualquer guaibense que se preocupa em saber sobre a formação do lugar onde vive. Quem conhece Seu Carlinhos e suas publicações, sabe do que estou falando. Quem conhece Seu Carlinhos e suas publicações, conhece melhor Guaíba.


*Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais

quinta-feira, 10 de março de 2011

Projeto é manchete no jornal Gazeta Centro Sul

Mesmo antes de sua inauguração oficial, o projeto Nossa Comunidade tem História começa a dar o que falar na mídia da cidade. Em sua edição da última sexta-feira, 4, o jornal Folha Guaibense publicou em sua contracapa texto informando sobre o lançamento do próximo dia 15, onde reforça também a importância das oficinas de Rodas de História e de capacitação em Vídeo e Fotografia.

Já a Gazeta Centro Sul do dia 5 de março estampou em sua capa a manchete: “Populares farão documentário sobre a história de seus bairros” – publicando matéria detalhada sobre cada etapa do projeto.

Clique aqui para acessar a matéria no site da Gazeta.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Narradores da memória*



Javé, cidade do interior da Bahia de povo maltratado e trabalhador, cuja lavoura de sofrimentos é bem maior do que qualquer canteiro de posse, pois Javé é uma cidade condenada à extinção. Mas não se trata dessa extinção que o tempo impõe a todos, um sumiço gradual, que determina lentamente um lugar ao esquecimento definitivo, como que avisando aos poucos sobre sua retirada da história. Javé sumirá por obra do próprio homem, inundada por uma represa, iniciativa de beneficiamento energético. Menos para o povo analfabeto e simplório de Javé.

A única maneira de impedir a inundação é comprovar que aquele canto de terra seca esquecido por Deus possui uma história que merece ser preservada. É daí que surge a idéia: repatriar Antonio Biá, único homem letrado do povoado, exilado em dunas distantes por ter inventado histórias difamantes e enviado em cartas a parentes dos demais moradores, tudo na esperança de preservar seu emprego nos Correios da cidade – agência tão necessária para o povo analfabeto de Javé quanto um secador de cabelos na aridez nordestina. Repatriar Biá para que ele escreva a grande história de Javé, a saga de um povo que fundou na herança quase inconsciente da tradição oral o seu inventário, mas que por falta de registros e fiadores científicos, não obtém a crença dos senhores letrados da capital.

E a romaria de Biá começa, casa por casa, morador por morador, nas residências mais próximas, encravadas no centro do povoado, nos pagos longínquos, em tribos de línguas incompreensíveis, todos com a chance de contar a própria história. Ocorre que, diferente da frieza e da certeza dos documentos, as fontes humanas caminham em terreno incerto e salpicado de vaidade, sobretudo quando se trata do próprio passado. Ao passo que cada cidadão de Javé intitula-se herdeiro direto de Indalécio ou algum outro suposto fundador do povoado, embarcando todos na possibilidade de deixar a sombra que os impunha coadjuvantes – tal qual o povoado a que pertencem – e de alguma forma lançarem-se na história como protagonistas.

Diante de tanta confusão, nem mesmo os textos floreados de Biá conseguem cruzar o labirinto que enreda a memória de seu povo. Mas, assim como o desenvolvimento desenfreado não cessa de retirar ribeirinhos, condicionar comunidades a condições precárias em nome de um “todo” incerto e muitas vezes injusto, assim também é a caminhada humana, capaz de se adaptar às condições mais adversas. Basta que se tenha um palmo de terra seca, lá mesmo onde Indalécio ou algum outro antepassado resolveu assentar-se ou nalgum outro canto nordestino. Basta que tenha espaço, condições mínimas de moradia: desde sempre são as pessoas que constroem os povoados, pois a memória jamais será mercadoria a mercê de enchentes ou inundações.


Trailer do Filme

* Uma vez por semana, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Uma vez por semana, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Projeto capacita jovens em Vídeo e Fotografia

O Projeto ‘Nossa Comunidade tem História’, em parceria com o PROJARI (Projeto Artesanato, Recreação e Informática) e a Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura (SETUDEC), abriu inscrições para Oficinas de Capacitação em Vídeo e Fotografia. As atividades iniciam em março, na sede do Projari, e vão envolver jovens guaibenses de 14 a 25 anos.

As oficinas estão integradas ao projeto que pretende resgatar a memória de quatro comunidades da cidade por meio de Rodas de História: encontros onde moradores contam a própria história, construindo, assim, a trajetória do bairro. COHAB/ Santa Rita, São Jorge, Ermo e Bom Fim são as localidades escolhidas.

O curso tem duração de dois anos e, a partir do terceiro semestre, os alunos vão realizar um documentário e uma exposição de fotografia sobre o material coletado.

Inscrições e outras informações sobre o projeto, pelo telefone 3491 3266, com Dani.