terça-feira, 31 de maio de 2011

Visitas a museus e audição de concerto



Um dia dedicado à visitação de museus e audição de música clássica. Foi essa a prática de 45 membros do Nossa Comunidade tem História na última sexta-feira, 27 de maio. Oficineiros, alunos do curso de foto e vídeo, integrantes das rodas de história e demais participantes do projeto partiram às 14h rumo a Porto Alegre e regressaram às 23h. Na bagagem, a experiência que vai muito além dos quilômetros rodados.

A atividade integra o cronograma do Nossa Comunidade com o objetivo de proporcionar aos moradores dos bairros São Jorge/Primavera, Bom Fim, Ermo e Santa Rita/COHAB – na sua maioria distantes dessa realidade – um contato mais íntimo com a cultura produzida no Estado.
- Esse tipo de atividade é fundamental para que o projeto crie uma identidade própria. É nesse tipo evento que moradores de bairros diferentes podem conviver por mais tempo, além do contato com a cultura – reforça Daniela Konradt, coordenadora do Nossa Comunidade pelo Projeto Artesanato, Recreação e Informática (PROJARI).

O roteiro abrangeu os museus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Hipólito José da Costa (Museu da Comunicação) e um concerto no Colégio Anchieta.

Na UFRGS, os visitantes foram apresentados à exposição sobre o boêmio e multicultural bairro Bom Fim, cuja recuperação da memória remete ao mesmo trabalho feito pelo Nossa Comunidade em Guaíba. Mais tarde, na ida ao Museu da Comunicação, prédio localizado no centro da capital, o contato com a história da televisão no Brasil, em oficina que trabalhou desde mecanismos de produção audiovisual até questões mais delicadas como as licitações para os meios de comunicação e a centralização da mídia em poucas mãos.

- Tudo foi muito proveitoso, conheci coisas que imaginava serem muito diferentes – explica Erozino Medeiros, 67 anos, morador do bairro Bom Fim.

Para encerrar o passeio, o grupo contribuiu para a lotação das dependências da Igreja Ressurreição, do Colégio Anchieta, e acompanhou o concerto Clássicos do Cinema, executado pela Orquestra da Unisinos. Trilhas de filmes famosos como Poderoso Chefão, Titanic e Dr. Zhivago embalaram a noite de sexta-feira.

Guilherme Pokorski, coordenador do projeto pela Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura (SETUDEC), resume o sentimento da equipe do Nossa Comunidade:“Foi muito interessante para nós, integrantes do projeto, presenciarmos a interação e a emoção demonstradas pelas pessoas que participam de nossas oficinas ao realizar o passeio. Foi uma maratona de uma tarde e uma noite, mas que, surpreendentemente, ninguém demonstrou cansaço e aproveitou ao máximo”, observou.




Foto: Hannah Beineke

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nossa Comunidade em Porto Alegre

O objetivo principal do Nossa Comunidade tem História é resgatar a memória de bairros cuja publicidade está normalmente atrelada a destaques negativos. Além de permitir que os moradores dessas localidades contem suas trajetórias, para, a partir daí, fazer um inventário histórico de Ermo, São Jorge/Primavera, Bom Fim e Santa Rita/COHAB com base nessas informações. Mas o Nossa Comunidade quer fazer mais. Por exemplo, permitir que os integrantes das Rodas de História, pessoas que não costumam visitar museus ou audições musicais, passem a freqüentá-los, passem a conhecê-los.

Na póxima sexta-feira, 27, essa promessa começa a ser cumprida. Participantes do projeto vão a Porto Alegre para visitar dois museus da capital gaúcha: o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cujo espaço abriga uma exposição sobre o boêmio e multicultural bairro Bom Fim; e o Hipólito José da Costa, importante memória audiovisual do Estado.

O roteiro ainda prevê a audição de um concerto da Orquestra da Unisinos, nas dependências do Colégio Anchieta, a partir da 20h30min. O repertório será composto por trilhas sonoras de sucessos do cinema mundial.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

As memórias do Bom Fim (de Porto Alegre)

Na quinta-feira da semana passada, membros do Nossa Comunidade estiveram em museus de Porto Alegre, com o objetivo de conceber um roteiro de visitação para os participantes dos quatro bairros contemplados (Ermo, São Jorge, Bom Fim, Santa Rita/COHAB) e das oficinas de vídeo e foto. O passeio acontece na próxima sexta-feira, e ainda nessa semana novas informações serão postadas sobre ele aqui no Blog.


Um dos museus visitados foi o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O local abriga desde dezembro do ano passado a exposição ‘Bom Fim: um bairro, muitas histórias’, trabalho que remonta a trajetória do bairro que foi definido pelo morador célebre e curador de honra do projeto Moacyr Scliar, como o coração da cidade de Porto Alegre.


Nos dois andares disponíveis no museu, significativa variedade de fotos e vídeos que contam as passagens mais marcantes do bairro é apresentada ao visitante. Dos tempos mais tranquilos, quando a Redenção ainda permitia aos pedestres um trânsito noturno em seu núcleo, livre de assaltos, passando pela atividade política durante o Regime Militar, e até confirmando a natureza boêmia com o Ocidente e outros bares marcantes nos anos 80 e 90 – todas as décadas são contempladas.


No mesmo dia da visita, aconteceu a primeira Roda de Conversa (Processo idêntico às Rodas de História) registrada em vídeo pela equipe. Na oportunidade, novas histórias foram levantadas pelos participantes, reafirmando a fonte inesgotável da memória e a importância fundamental de projetos como esse.


Confira mais informações no site da exposição, clicando aqui.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tarantino, um bastardo em estado de glória*




A História é uma senhora digna. Sempre encontra uma forma de reparar as injustiças que assiste desde o seu camarote privilegiado. Basta debruçar-se sobre a trajetória dos líderes mais terríveis, basta rememorar os impérios mais cruéis. Os mesmos líderes sempre – e não há outra maneira – morrem; os mesmos impérios sempre encontram sua derrocada. O tempo é o fiador central desse processo. Ainda assim, a mesma História, como toda ciência que transita mais na subjetividade das letras do que na exatidão dos números, comete reparações parciais. Haja vista o caso dos judeus. Nada, nem os julgamentos que condenaram nazistas à morte, prisões perpétuas, nem a posse robusta de grandes bancos espalhados pelo mundo, nem a soma de qualquer riqueza, seja na qualidade de alguma moeda, seja na aquisição de bens materiais, nada conseguiu reparar a perseguição genocida que sofreram. A História emperra na contingência dos acontecimentos. É refém da realidade. A arte, não. Isso tudo deve ter passado pela cabeça genial de Quentin Tarantino ao conceber sua obra prima, Bastardos Inglórios. Era a hora de a arte emprestar sua capacidade reformadora a um dos mais trágicos acontecimentos da humanidade.

É claro que Tarantino jamais filmaria uma ode piedosa e sóbria sobre o extermínio de milhões de judeus. Não. Tarantino nunca filma odes piedosas e sóbrias. Ele encarnou a mesma temática que molda seu trabalho desde os primeiros filmes: a mesquinhez humana, seu vícios, a fragilidade da vida, sua fugacidade, a natureza violenta, mas, sobretudo, a legitimidade de uma vingança. Foi assim nos Kill Bill Volumes 1 e 2. É assim em Bastardos Inglórios.

O filme compõe-se de dois núcleos básicos: o primeiro, protagonizado pela jovem francesa e judia Shosanna, única remanescente da chacina sofrida pela família denunciada aos nazistas por um fazendeiro vizinho; o segundo, liderado por Aldo Raine, um tenente do exército estadunidense inflado do sotaque mais genuíno do Tennessee e livre de escrúpulos, designado a comandar um grupo de extermínio de nazistas, os Bastardos Inglórios que nominam o filme.

Ao passo que a jovem ruma a Paris, protege-se por trás de um novo nome, foge aos olhos nazistas na condição de herdeira de um cinema e vê a chance de finalmente se vingar das perdas sofridas quando é intimada a fazer a première de um filme do Terceiro Reich, o insólito grupo de extermínio liderado por um Brad Pitt convincente cumpre sua saga pelo interior da França, escalpelando os soldados inimigos abatidos, tatuando com a faca a suástica na testa daqueles que sobrevivem – segundo o Tentente Raine, para que não corram o risco de esconderem-se na multidão quando a guerra acabar e o uniforme nazista deixar de vesti-los.

É a figura que liga a trajetória dos dois núcleos, contudo, o Coronel Hans Landa, Christoph Waltz (Melhor ator coadjuvante no Oscar 2010), quem rouba para si toda a história, como condutor e melhor personagem da trama. Poliglota, afetado, de modos refinados, Landa possui educação e sofisticação proporcional à crueldade e naturalidade que encarna. Seja na chacina à família de Soshanna, seja no assassinato de uma atriz alemã famosa surpreendida como agente dupla, seja ainda quando verbaliza seus ensaios preconceituosos sobre negros e judeus – e segue assim na repentina configuração na ferramenta principal para a derrota nazista.

Landa, Shoshanna, Raine, além dos caricatos Hitler e Goebbles, todos eles permitem a Tarantino travestir a Arte de História para reparar um equívoco do passado, quando o próprio Führer negou aos inimigos sua morte e manteve a marcha ariana até o último momento. Tarantino permite, através de sua obra, o acerto de contas adiado por 65 anos. Tarantino remexe numa memória que tanto envergonha e machuca a humanidade, uma memória normalmente jogada aos lugares comuns que conduzem ao martírio e à piedade. Tarantino usa de seu cinema verborrágico e sanguíneo para falar como poderia ter sido. Como deveria ter sido. Para nãos nos deixar esquecer.


*Duas vezes por mês, a Memória encontra eco na Arte aqui no Blog. Duas vezes por mês, o projeto Nossa Comunidade tem História dialoga com alguma manifestação artística que tenha na Memória um de seus temas centrais.